Diante
fica a página em branco. De versos singelos que não pude dar, de
momentos que não pude esquecer vivendo, de esquecer que já estava
alcançando quando já via a coisa escorrer pelas mãos, pulando, o
salto para o inquieto mundo que ainda nunca chega e quando perto de
chegar, voltando, querendo, sonhando. Alçando-se daquela mania de
sorver a vida ou estar sempre à frente ou sempre atrás do próprio,
mas nunca no seu ponto mesmo. Do cansaço de dizer que todos estão
loucos e de ver que nem é tanto assim. É que nesse mundo
atribulado, de vai e vem, ou quem consegue ficar sempre parado,
achando que já deu? Resiste a viver em sua dor, sintomas da sua
fraqueza, esse mal estar, do seu desequilíbrio? Passaria a vida toda
perguntando a si mesmo o que foi feito, passando o tempo? Dos sábios
ouve: seja como for, evitar os vícios, não são bons pra ninguém,
não faça isso, faça aquilo, isso vai dar um bom dinheiro. Como
queria ser você. Um café, talvez um cigarro. São coisas que todos
fazem, mas abandonar tudo pensando em fazer isso como quem lava as
mãos?! Mudar de nome, julgando-se a si mesmo culpado e medíocre, de
endereço, sempre perdendo o celular, trocando de número,
disfarçando seu aspecto dúbio, refugiando-se no além? E como podia
ser diferente das arestas que lhe prendem e que não lhe fazem
despertar, de si, de si. Ecos. Seria melhor pensar em definir logo
todas essas metas, tornando tudo bastante coerente para todos que o
amam, que o esperam, que o impelem a algo, desejando ver o seu sucesso logo. Logo. É tudo isso aí. Fecha os
olhos e mergulha num incrível sonho profundo que virá é que tudo
já começou. E bem diante de si está tudo pronto, a casa, a
família, o almoço na mesa, a roupa lavada, o computador e o dia
todo, um emprego decente, respeitável. Mas tinha que ruminar tudo
isso. Diante da página fica tudo em branco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário